A devoção Theotokos, um termo grego que significa “Portadora de Deus” ou “Mãe de Deus”, é uma expressão de veneração e amor profundo pela Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo.

O título “Theotokos” foi formalmente afirmado no Concílio de Éfeso em 431 d.C., que declarou Maria como a “Mãe de Deus” para enfatizar a divindade de Cristo desde o momento de sua concepção. Esta definição foi crucial para combater heresias que separavam a natureza divina e humana de Jesus. A devoção a Theotokos destaca a crença na Encarnação, onde Deus se fez homem através de Maria.

Pintores renascentistas, como Leonardo da Vinci e Rafael, criaram obras-primas que retratam Maria, refletindo sua importância espiritual e cultural. Hinos e cânticos marianos são parte integrante da música sacra, e muitos escritores e poetas exploraram a figura de Maria em suas obras, destacando sua pureza, coragem e amor materno.

O que foi o Concílio de Éfeso em 431 d.C?

O Concílio de Éfeso, realizado em 431 d.C., foi um dos mais importantes concílios da Igreja Cristã. Convocado pelo Imperador Teodósio II, o concílio teve lugar na cidade de Éfeso, na Ásia Menor (atualmente na Turquia). Seu objetivo principal era resolver disputas teológicas que surgiram em torno das naturezas de Cristo e o papel da Virgem Maria na encarnação.

No início do século V, surgiram controvérsias dentro da Igreja a respeito da natureza de Cristo. A principal figura na controvérsia era Nestório, Patriarca de Constantinopla, que argumentava contra o uso do título “Theotokos” (Mãe de Deus) para Maria. Ele propunha que Maria deveria ser chamada de “Christotokos” (Mãe de Cristo), para enfatizar que ela era mãe apenas da natureza humana de Jesus, não da divina. Isso sugeria uma separação entre as naturezas divina e humana de Cristo, levando a um dualismo que muitos consideravam herético.

O Concílio de Éfeso abordou principalmente esta controvérsia. Sob a liderança de São Cirilo de Alexandria, o concílio condenou as ideias de Nestório e declarou que Cristo é uma única pessoa com duas naturezas inseparáveis, divina e humana. Com isso, reafirmou o uso do título “Theotokos” para Maria, enfatizando que Jesus era verdadeiramente Deus e homem desde o momento da sua concepção.

Principais decisões do Concílio de Éfeso

Condenação do Nestorianismo: As ideias de Nestório foram declaradas heréticas. O concílio afirmou que Jesus Cristo é uma única pessoa, com duas naturezas (divina e humana) inseparavelmente unidas.

Proclamação de Maria como Theotokos: O título “Theotokos” foi oficialmente reconhecido, afirmando que Maria é a Mãe de Deus, pois deu à luz a Jesus Cristo, que é tanto Deus quanto homem.

Unidade da Igreja: O concílio buscou manter a unidade doutrinária e disciplinar da Igreja, enfrentando divisões internas e reafirmando a autoridade dos bispos e patriarcas em manter a ortodoxia.

O Concílio de Éfeso teve um impacto duradouro na teologia cristã e na veneração de Maria. Ele ajudou a moldar a doutrina cristológica, influenciando futuros concílios, como o Concílio de Calcedônia em 451 d.C., que continuou a definir a natureza de Cristo. A proclamação de Maria como Theotokos também reforçou sua posição de destaque na devoção cristã, solidificando seu papel como intercessora e mãe de todos os cristãos.

Qual o ícone mais famoso da Theotokos?

O ícone mais famoso da Theotokos é o “Ícone de Nossa Senhora de Vladimir” (também conhecido como “Theotokos de Vladimir” ou “Vladimirskaya”). Este ícone é uma das mais veneradas imagens da Virgem Maria na tradição ortodoxa oriental e tem uma história rica e significativa.

Acredita-se que o ícone tenha sido pintado em Constantinopla no início do século XII. A tradição conta que ele foi criado por São Lucas Evangelista.

O ícone foi levado para Kiev, na Rússia, em 1131, como um presente do Patriarca de Constantinopla para o príncipe Mstislav de Kiev. Posteriormente, ele foi transferido para a cidade de Vladimir por volta de 1155 pelo príncipe Andrei Bogolyubsky. O ícone recebeu o nome “Nossa Senhora de Vladimir” em homenagem à cidade.

Em 1395, durante a invasão de Tamerlão, o ícone foi levado a Moscou para proteger a cidade. Segundo a tradição, Tamerlão teve uma visão de Maria que o fez recuar, poupando Moscou de destruição. Após esse evento, o ícone permaneceu em Moscou, reforçando seu status como um símbolo de proteção divina para a Rússia.

O ícone de Nossa Senhora de Vladimir é venerado por sua associação com milagres e eventos históricos significativos. É considerado um protetor da Rússia e um símbolo de unidade nacional e espiritual. Ele desempenhou um papel central em muitas cerimônias religiosas e eventos históricos, sendo levado em procissões e exibido em momentos de crise.

Além de seu significado religioso, o ícone de Nossa Senhora de Vladimir é uma obra-prima da arte bizantina. Ele inspirou inúmeras cópias e influenciou o desenvolvimento da iconografia mariana na tradição ortodoxa. Sua presença em momentos cruciais da história reforça sua importância como símbolo de fé, proteção e identidade nacional.

Teótoco de Vladimir
Theotokos de Vladimir

O que diz o Catecismo da Igreja Católica sobre Theotokos?

O Catecismo da Igreja Católica aborda a devoção à Theotokos, ou Mãe de Deus, em vários pontos, refletindo o papel central de Maria na teologia e na vida da Igreja. Aqui estão alguns trechos relevantes que explicam a importância e a doutrina relacionada a Maria como Theotokos:

O Catecismo confirma a doutrina de Maria como Mãe de Deus:

CIC 495: “Chamada nos evangelhos «a Mãe de Jesus» (Jo 2, 1; 19, 25)(150), Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito Santo e desde antes do nascimento do seu Filho, como «a Mãe do meu Senhor» (Lc 1, 43). Com efeito, Aquele que Ela concebeu como homem por obra do Espírito Santo, e que Se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne, não é outro senão o Filho eterno do Pai, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é, verdadeiramente, Mãe de Deus («Theotokos») (151).'”

A devoção a Maria como Theotokos está intimamente ligada à doutrina da Encarnação:

CIC 466: “A heresia nestoriana via em Cristo uma pessoa humana unida à pessoa divina do Filho de Deus. Perante esta heresia, São Cirilo de Alexandria e o terceiro Concilio ecuménico, reunido em Éfeso em 431,confessaram que «o Verbo, unindo na sua pessoa uma carne animada por uma alma racional, Se fez homem» (91). A humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua desde que foi concebida. Por isso, o Concílio de Éfeso proclamou, cm 431, que Maria se tornou, com toda a verdade. Mãe de Deus, por ter concebido humanamente o Filho de Deus em seu seio: «Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus dela tenha recebido a natureza divina, mas porque dela recebeu o corpo sagrado, dotado duma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne» (92).”

Maria é descrita como desempenhando um papel crucial na história da salvação:

CIC 488: “«Deus enviou o seu Filho» (GI 4, 4). Mas, para Lhe «formar um corpo» (129), quis a livre cooperação duma criatura. Para isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe do seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré, na Galileia, «virgem que era noiva de um homem da casa de David, chamado José. O nome da virgem era Maria» (Lc 1, 26-27):

«O Pai das misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele predestinara para Mãe, precedesse a Encarnação, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuísse para a vida (130).”

O Catecismo também aborda a veneração e a intercessão de Maria:

CIC 971: “«Todas as gerações me hão-de proclamar ditosa» (Lc 1, 48): «a piedade da Igreja para com a santíssima Virgem pertence à própria natureza do culto cristão» (539). A santíssima Virgem «é com razão venerada pela Igreja com um culto especial. E, na verdade, a santíssima Virgem é, desde os tempos mais antigos, honrada com o título de “Mãe de Deus”, e sob a sua protecção se acolhem os fiéis implorando-a em todos os perigos e necessidades […]. Este culto […], embora inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração que se presta por igual ao Verbo Encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o poderosamente» (540). Encontra a sua expressão nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus (541) e na oração mariana, como o santo rosário, «resumo de todo o Evangelho» (542).”

O Catecismo destaca que a veneração de Maria é uma prática antiga e essencial da tradição cristã:

CIC 967: Pela sua plena adesão à vontade do Pai, à obra redentora do Filho e a todas as moções do Espírito Santo, a Virgem Maria é para a Igreja o modelo da fé e da caridade. Por isso, ela é «membro eminente e inteiramente singular da Igreja» (533) e constitui mesmo «a realização exemplar»,o typus, da Igreja (534).”

Veja também: Dogmas Marianos: fundamentos da fé e tradição católica

Festa de Maria Mãe de Deus

A festa de Maria, Mãe de Deus, celebrada em 1º de janeiro, é uma das festas marianas mais importantes no calendário litúrgico da Igreja Católica e também é reconhecida em algumas tradições ortodoxas. Esta festa é uma celebração do papel de Maria como a Mãe de Jesus Cristo, que é Deus feito homem, e reafirma a doutrina da Encarnação.

A data de 1º de janeiro foi escolhida por estar no início do ano novo. A festa também está ligada à oitava do Natal, marcando a continuidade da celebração do nascimento de Cristo e a importância de Maria em sua encarnação.

A festa reafirma a doutrina de que Maria é verdadeiramente a Mãe de Deus porque ela deu à luz Jesus Cristo, que é plenamente Deus e plenamente homem.

Maria Mãe de Deus
Maria Mãe de Deus

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