Depois que, a Santa Virgem chegou a uma idade maior, de doze anos, que era a época do casamento segundo a norma da Lei (cf. Proto-Evangelho 8, 2).
Os sacerdotes, porém, não podiam realizá-lo, em virtude de sua dedicação; pois temiam expulsar do templo aquela que foi oferecida a Deus, e lhes parecia abominável entregar ao jugo do matrimônio alguém que fora confiada a Deus, ordenada para estar a serviço do jugo unicamente de Deus.
A norma da Lei de Moisés, todavia, também proibia que uma jovem que chegasse a essa idade continuasse a estar presente no templo. Houve, pois, muita ponderação entre eles acerca do assunto, para determinar o que era melhor.
Deus, então, enviou ao coração deles um propósito legítimo e conveniente, que satisfaria a norma da Lei e evitaria o casamento. Decidiram, pois, entregá-la em noivado, mas não em casamento, a um homem não disposto ao casamento, mas velho e ancião, experiente na perfeição das virtudes; pois ele seria um zeloso guardador da sua virgindade.
Mas este era também um ato da divina Providência, ordenado do alto para que, assim como o mesmo Senhor e Rei de todas as coisas ocultara o brilho inabarcável de sua divindade na carne, para que o Príncipe das trevas não pudesse reconhecê-Lo, assim também a virgindade de sua Mãe na condição de noiva era um disfarce, para que ninguém pudesse saber por quem e em que momento a sua Encarnação aconteceria, e para que, assim, pudesse ludibriar o Inimigo apóstata pela forma da sua humanidade; pois aquele sabia que Ele viria ao mundo por uma virgem, pelas palavras de Isaías e de outros Profetas.

A escolha de um homem justo
Enquanto deliberavam os sacerdotes, não confiaram em si mesmos para a escolha de tal homem santo, mas tudo entregaram à Providência de Deus, como fizera Moisés quando muitos disputavam o cargo de sumo sacerdote.
Este confiou o juízo sobre essa matéria a Deus, trouxe as varas das tribos para o Tabernáculo e, por elas, conheceu a vontade de Deus, pelo florescer da vara (cf. Nm 17, 8). E mais tarde, Pedro e os outros Apóstolos encontraram aquele que ocuparia o lugar do traidor através da oração e do sorteio (cf. At 1, 26).
Assim também, então, o sumo sacerdote e os demais sacerdotes permaneceram em oração e em súplicas a Deus, por instrução do grande Zacarias, pai de João Batista, que ocupava o cargo de sumo sacerdote nessa época. E ele era testemunha da vida santa e do incompreensível ministério que se realizavam na Santíssima Virgem.
A relação de Zacarias com a Santa Virgem
Enquanto ela vivia no templo, Zacarias era um parente da Santa Virgem, não só por ser da mesma tribo, em razão da união das tribos real e sacerdotal, mas também por meio de sua esposa, Isabel, não só por ser indicado em outros textos que Maria e Isabel eram filhas de duas irmãs, mas também pelas palavras do arcanjo que o confirmam, como está escrito no Santo Evangelho: “E eis que tua parente Isabel” (Lc 1, 36).
Assim, naquele momento, Deus pôs tal propósito na mente de Zacarias, e ele trouxe doze varas de anciãos idosos e respeitáveis que tinham parentesco com a Santa Virgem, e os colocou no santuário do templo. E ele mesmo permaneceu com os outros sacerdotes em oração e súplicas a Deus, com lágrimas ardentes, e todos pediram que fossem convencidos por um milagre que alguém digno recebesse a Virgem.
O Senhor concedeu um excelente sinal, e a vara de José floresceu e se tornou frutífera como a de Aarão no passado e, assim, pela Providência de Deus e pela deliberação dos sacerdotes, José recebeu de Zacarias a Virgem Imaculada, como guardião e cuidador, servo deste grande e maravilhoso mistério para além de toda compreensão.
A vida e virtudes de José
José tinha, então, mais de setenta anos, para que ninguém pudesse levantar qualquer suspeita de casamento. Ele era pobre e carente de bens materiais, de modo que assim foi criado em sua casa, de acordo com a estatura corporal, aquele que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com sua divindade.
José era carpinteiro de profissão, mais famoso em seu ofício do que todos os outros carpinteiros, porque viria a ser o servo do verdadeiro artesão, o Criador e Arquiteto de todas as criaturas. Mas assim como José era então famoso pela profissão, assim também era conhecido pela virtude, pela piedade e pelas boas obras: entre aqueles de sua idade ele era o maior, com exceção dos pais da Virgem.
E por que seria necessário dizer algo mais sobre ele, de cuja justiça o mesmo Deus era testemunha? Todos os homens de sua tribo também eram testemunhas disso. O Evangelista Mateus é testemunha: “José era um homem justo” (Mt 1, 19).
Quando José recebeu a Santa Virgem, ele a levou de Jerusalém e de Sião à Galiléia, à cidade de Nazaré, pois eis que isto era um sinal do mistério glorioso de que o Verbo de Deus, Rei e Criador de todas as coisas, viera a nós da Jerusalém celeste e invisível, das glórias inefáveis e inexprimíveis e dos tronos reais.
José, porém, levou a Santa Virgem Maria de acordo com seu tipo, como a rainha e comandante da casa, e colocou-a acima de suas filhas.
Como está escrito acerca do primeiro José: “O Faraó nomeou-o senhor de sua casa e administrador de todas as suas posses” (Sl 104, 21; cf. Gn 41, 40), assim também este José nomeou a Virgem Maria comandante, mestra e governante de todos os membros de sua família, para instruí-los como a ele mesmo, para que ela tornasse sábias as suas filhas, como diz o Profeta (Sl 104, 22).
Embora fossem mais velhas, Maria se distinguia pela graça do Espírito Santo. Mas assim como a abençoada e santíssima mulher era um tesouro de todas as virtudes, assim também era ela mansa, serena e, sobretudo, humilde. E a maior parte do tempo ela permanecia em casa e se dedicava à oração e às súplicas a Deus, com muito jejum e trabalhos.
Nota importante
A virgindade de São José não é um dogma oficial da Igreja Católica, e a ideia de São José como virgem é uma questão teológica que foi objeto de debate ao longo dos séculos. Tradicionalmente, São José é venerado como o esposo casto de Maria e o pai terreno de Jesus, mas a Igreja Católica não ensina oficialmente que ele era virgem.
No entanto, alguns teólogos e santos da Igreja Católica defenderam a ideia de que São José poderia ter sido virgem, especialmente dentro do contexto de sua relação com a Virgem Maria. Entre os que sugeriram essa possibilidade estão Santo Agostinho, São Jerônimo e Santo Tomás de Aquino, embora essa visão não tenha sido universalmente aceita ou definida como dogma.
Os documentos que falam sobre a virgindade de São José são geralmente escritos de teólogos e Padres da Igreja, mas nenhum documento oficial da Igreja, como concílios ou encíclicas papais, declara explicitamente que São José era virgem. A veneração de São José enfatiza mais a sua castidade e papel como guardião da Sagrada Família do que uma discussão sobre sua virgindade pessoal.
A Igreja, no entanto, promove a devoção a São José como um exemplo de pureza, humildade e fidelidade. Em suma, enquanto a ideia de virgindade de São José é defendida por alguns, não há um ensino oficial ou documento da Igreja que ateste isso como doutrina.
Catecismo da Igreja Católica
CIC 437. O anjo anunciou aos pastores o nascimento de Jesus como sendo o do Messias prometido a Israel: «nasceu-vos hoje, na cidade de David, um salvador que é Cristo, Senhor» (Lc 2, 11). Desde a origem, Ele é «Aquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo» (Jo 10, 36), concebido como «santo» no seio virginal de Maria (32). José foi convidado por Deus a «levar para sua casa Maria, sua esposa», grávida d’«Aquele que nela foi gerado pelo poder do Espírito Santo» (Mt 1, 20), para que Jesus, «chamado Cristo», nascesse da esposa de José, na descendência messiânica de David (Mt 1, 16) (33).
CIC 488. «Deus enviou o seu Filho» (GI 4, 4). Mas, para Lhe «formar um corpo» (129), quis a livre cooperação duma criatura. Para isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe do seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré, na Galileia, «virgem que era noiva de um homem da casa de David, chamado José. O nome da virgem era Maria» (Lc 1, 26-27):
O Pai das misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele predestinara para Mãe, precedesse a Encarnação, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuísse para a vida (130).
CIC 532. A submissão de Jesus à sua Mãe e ao seu pai adotivo foi o cumprimento perfeito do quarto mandamento. É a imagem temporal da sua obediência filial ao Pai celeste. A submissão diária de Jesus a José e a Maria anunciava e antecipava a submissão de Quinta-Feira Santa: «Não se faça a minha vontade […]» (Lc 22, 42). A obediência de Cristo, no quotidiano da vida oculta, inaugurava já a recuperação daquilo que a desobediência de Adão tinha destruído
O Anúncio do Nascimento de João Batista
Poucos dias depois de deixar o templo, porém, chegou o dia da festa da dedicação dos Tabernáculos e do repouso da Arca (cf. 1Rs 8; 2Cr 7; Gn 8, 4). Era o quinto mês depois do primeiro mês, segundo a regra do número de meses dos hebreus.
O sumo sacerdote Zacarias entrou no Santo dos Santos para incensar com o turíbulo, segundo o costume, e o nascimento de João lhe foi anunciado (cf. Lc 1, 8–23), porque convinha que o candelabro viesse antes da luz, a aurora antes do sol, a voz antes da palavra (cf. Mt 1, 3; Jo 1, 1), o amigo antes do noivo (cf. Jo 3, 29) e o cavaleiro antes do rei.
Convinha que a maravilha menos espantosa, a concepção pela estéril, precedesse a mais espantosa, a concepção sem semente pela Virgem, como o arcanjo confirma e diz com esta declaração: “Eis, que Isabel, tua parente, também concebeu um filho” (Lc 1, 36).
Veja também: Joaquim e Ana: Os pais da Virgem Maria e o milagre da concepção
Trechos retirado do livro A vida da Virgem – Capítulo I.
De São Máximo Confessor.
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